ESBARRÕES
Andy Warhol disse que todos teriam, algum dia, direito a quinze minutos de fama. Comecei a calcular meus créditos. Que eu me lembre( e é claro que eu lembro) fui entrevistado UMA vez pelo Heraldo Pereira, no começo dos anos 80. Acho que ele também estava começando, pois a entrevista, que demorou uns 40 minutos, teve uma edição de uns 45 segundos no Fantástico. Foi sobre o mercado de carros usados e novos, assunto que, confesso, entendia muito pouco, mas que agora entendo menos ainda. Sobre o mesmo assunto, na mesma época, fui entrevistado por uma jornalista do Estadão, que rendeu uma matéria de meia pagina, num cadernão qualquer do domingo, na página trocentos e pouco. Considerando que, nessa matéria foram usadas duas ou três citações minhas ( com aspas e tudo) e o tempo de leitura dessas citações deveriam consumir no máximo 2 minutos ( não vale leitura dinâmica!!) , pelo meus cálculos, ainda tenho direito a
Invertendo o raciocínio e assumindo plenamente minha condição de anônimo, comecei a lembrar dos “esbarrões” que tive acidentalmente com personalidades que tiveram seus “anos” de fama, alguns merecidamente, outros nem tanto, mas que de alguma forma acabaram interagindo comigo, mesmo sabendo que esses esbarrões não tiveram a menor importância na vida dessas personalidades, não mudaram a vida nem a obra de ninguém, nem tiveram conseqüências dignas de nota, em termos de historia ou estoria . Eles simplesmente aconteceram.
Fins dos anos 60. Eu, “Office-boy” da Xerox, recém instalada no Brasil.e que tinha terminado o curso interno de “ Operador Chave da Xerox
Claro que não parei na “Xerox
O primeiro era um gordo que eu conhecia por trabalhar na “ Família Trapo” da TV Record :
Jô Soares. Outro era um compositor de musicas de protesto. Geraldo Vandré. O terceiro era um artista plástico, cuja única obra que eu conhecia estava pendurada lá mesmo no famoso “show-room” da Xerox, com uma dedicatória :
“Ao meu Amigo Sebastião “ Medonho” Bonfá” ,
A assinatura era de Aldemir Martins
Sem duvida, mesmo inconscientemente, devo ter subtraido mais algumas horas de fama de alguém.
Hoje, nem sei se esses palacetes existem( esqueci de falar, eram dois, ligados por uma passarela), mas nunca esqueci que o piso do “show-room” era como um tabuleiro de xadrez, branco e preto. Foi ali que dei meus primeiros lances profissionais. Provavelmente, foi ali que ficou estabelecido que eu jamais seria um Karpov, ou mesmo um Mequinho.
Outros esbarrões aconteceram em outra empresa que trabalhei, por exemplo Doca Street foi meu colega de trabalho, fui apresentante do Adilson “Maguila” Rodrigues na agencia do Banco
Desses, o mais emblemático, talvez por não ser “famoso” na época em que o conheci, chamava-se Ubaldo Conrado Augusto Wessel. Ele era o proprietário do imóvel em que estava instalada a loja em que eu trabalhava. E eu levava pessoalmente o cheque do aluguel em sua casa, ali na Barra Funda, além de negociar os reajustes. Eu só sabia que ele era proprietário de dezenas de imóveis comerciais ali na região de Campos Elisios e Barra Funda. Só muito depois vim a saber que ele, de família abastada, químico e apaixonado pela fotografia, inventou e patenteou, em 1921,um papel fotográfico muito superior aos importados e dominou o mercado. Recebeu muitas ofertas de venda de sua patente. Acabou aceitando uma sociedade com a Kodak, que estava muito interessada em sua patente, fundando a Fabrica de Papel Fotográfico Kodak-Wessel , moderna fábrica
Sem família ou herdeiros, antes de morrer aos 103 anos de vida, criou a Fundação Conrado Wessel, ( www.fcw.org\br ) que recebeu toda a sua imensa fortuna e, além de apoiar 6 entidades por ele escolhidas, atribui prêmios anuais a entidades ou personagens que se destacam nacionalmente nas áreas de ARTE, CIÊNCIA e CULTURA O escolhido de cada área recebe,além do Troféu, um premio de R$ 150.000,00.
Desse, não subtrai nenhum minuto de fama, mesmo porque, ele não a possuía. Mas, pelo bem que deixou após sua morte, talvez tenha sido a personalidade com a qual eu tenha tido mais prazer em ter esbarrado.