segunda-feira, 16 de março de 2009

DUAS MENINAS

Menina do Rio,

Que a sorte sorriu,

Que é linda e se veste bem.

Tem bola, peteca, patim, tem boneca

É a menina bem.

Tem aulas de piano

E no fim do ano,

Recebe Papai Noel

Mas ela não viu,

Pois lá nunca subiu,

Uma que nada tem,

Não tem

Menina,

Cara suja de favela,

Maltrapilha magricela,

Queres descer.

Lá embaixo,

Ver as coisas tão bonitas,

Na boneca ela acredita,

Que ainda vai ter.

E pede

Ao homenzarrão barbado

No cimo do Corcovado

Sua mão pra ela descer

Tens tudo,

Diz o Cristo em tom macio

Estás entre mim e o Rio

Perto de Deus,

Perto do céu.....

Perto de Deus,

Perto do Céu......

Esta é a minha homenagem a um dos maiores artistas sanroquenses e que me deu a imensa honra de poder ser seu contemporâneo e compartilhar um pouco do seu convívio e desfrutar a sua genialidade, e de ser seu primo, não de sangue, mas, talvez mais importante, por afinidade.

Edynelson Franco. Autodidata, foi um jogador de futebol acima da média, desenhista, ilustrou capas de diversos livros, produziu diversos cartazes para o Cine São José, pianista, violonista e excelente papo.

Até como ator, ele deu seus “pitacos”, atuando no teatro amador e até no cinema!!!( vide “Balas Encravadas”)

Como compositor, criou dezenas de músicas, uma das quais reproduzo a letra acima ( é bom frisar, de memória, portanto, desculpem as eventuais falhas e agradeço as prováveis correções)

Essa veia musical, a meu ver, era a que ele mais curtia.

Ele foi embora cedo.

Mas deixou outras pérolas, como “Primavera” , “Guerra e Paz” , “Iemanjá”, etc...

Assim como ele, outros grandes artistas sanroquenses, como Chumbinho, Crescenzi, João Luiz, Juvenal do Trombone,Roberto Godinho,Roque Fernandes, Tadeo Gallo, Serde, Roberto R.Lopes, Marines, Toninho Poeta, criaram e apresentaram grandes músicas nos festivais sanroquenses. Até eu, “cometi” algumas músicas. Paulo Cesar Pinheiro, indiretamente, concorreu com uma música, num desses festivais. Mas acho que nem ele mesmo sabe, ou lembra disso. Tivemos como palcos o GUS ( onde hoje é a matriz do Supermercado São Roque) o Colégio São José e o próprio Cine São José, completamente lotado, para assistir Paída, Maria Amélia. Zé Irineu, Iberê e Oduvaldo R.Lopes, Chico Paco, Banha, Zé Gastão, Paulinho Cabeção etc. detonando canções românticas, de protesto, sambas, etc. com o apoio inestimável do grande maestro Borba.

Das músicas sanroquenses, tenho algumas poucas letras, umas integrais, outras parciais. Seria interessante se alguém tivesse algumas anotações, e pudéssemos criar uma coletânea, a mais abrangente possível, antes que todas elas se percam e com elas a lembrança de toda uma época. Estou à disposição para levar essa tarefa adiante.

Niney

quarta-feira, 4 de março de 2009

GAMBIARRAS Entre as manias que tenho, além de gostar de você, como sentenciou Flávio Cavalcanti, uma outra acaba me rendendo várias gozações. É minha compulsão por gambiarras. É, a velha e boa “gambi”. Não posso ver um carretel jogado fora, um copo de requeijão descartado, uma garrafa pet rolando pela rua, uma placa de componentes eletrônicos deixada de lado, que me dá uma coceirinha e a vontade imensa de recolher, guardar, armazenar, e principalmente, dar um destino mais nobre para aquele pobre objeto. Sim, mesmo admitindo que essa matéria já cumpriu a missão para a qual foi, supostamente designada, não consigo assimilar a idéia de que os dinossauros só existiram para que o petróleo nos fornecesse hoje o plástico, as árvores travassem 30 ou mais anos de batalha dentro da floresta para nos suprir de agendas, cadernos, papel higiênico! E pior ainda, propagandas políticas na forma de “santinhos”. Como na maioria das vezes não consigo “idear” uma destinação do meu agrado, acabamos, eu e minha família, separando e destinando esses materiais para a coleta reciclável. Mesmo por que, se ousasse guardar todo esse material dentro de casa, com certeza Lena me colocaria rapidinho, junto com toda essa tralha, no lixo. E não seria necessariamente no reciclável. Ela é “braba”. Mas, devagarzinho, vou fazendo minhas “artes”. Fiquei mais animado depois que vi na Wikipédia que a gambiarra é uma prática que, "envolve sempre uma intervenção alternativa, o que também poderíamos definir como uma “técnica” de re-apropriação material: uma maneira de usar ou constituir artefatos, através de uma atitude de diferenciação, improvisação, adaptação, ajuste, transformação ou adequação necessária sobre um recurso material disponível, muitas vezes com o objetivo de solucionar uma necessidade específica. Podemos compreender tal atitude como um raciocínio projetivo imediato, determinado pela circunstância momentânea; ou ainda, como uma forma alternativa de design. Confesso que não entendi quase bosta nenhuma, mas que é bonito, é. Principalmente o trecho que fala no “raciocício projetivo imediato”. Meu Deus. Que será isso? Será pecado? Mas, mesmo assim, fui em frente. Para ilustrar minhas pequenas obras, darei dois exemplos recentes da utilização da“técnica” de re-apropriação material” segundo a Wikipédia , seja lá o que quer dizer isso. Um velho e prosaico chuveiro aqui de casa queimou. Pois bem. O Piolim que aqui vos fala, garbosamente foi numa das melhores casa do ramo e adquiriu uma resistência compatível, instalou-a convenientemente e ...Pimba...Na hora de ligá-lo à famosa rede hidráulica, ou seja aquele mardito caninho que fica na parede, a lei de Murphy, inexorável, implacável, f.d.putamente resolveu dar o ar de sua graça e o singelo aparelho caiu e quebrou a carcaça. O que fazer? Superbonder? Durepoxi? Fiz. Só Superbonder. Depois só Durepoxi. Depois Superbonder mais Durepoxi. Saia mais água pelo superbonder e durepoxi do que pelos crivos! ( sabia que aqueles furinhos do chuveiro por onde sai água chamam-se crivos? Toma cultura inútil!!!!) Nessa hora, não tem mais remédio. Para não passar vergonha, o Piolim que, caso você não tenha desistido continua vos falando, vai para outra também melhor casa do ramo, e parcela em 10 vezes um novo chuveiro. Instala-o com todo o cuidado e ufa!!!! Habemos banhus. Vá de retro fedô!! Mas e a carcaça do artefato pivô de toda a confusão? Jogo-a fora? Ponho fogo? Ou, reconhecendo os anos de bons serviços prestados, proporciono-lhe uma justa e merecida aposentadoria, guardando-a numa caixa de supermercado? Nenhuma das alternativas acima. Como não era tão prosaico assim, desmontei-o e aproveitei seu motor turbo, o pedaço de carcaça que sobrou, mais algumas peças e montei um: tchan tchan tchan tchan ..... ESMERIL . Que funciona!!!! Até hoje afio facas, chaves de fenda, etc.( não exagera muito no etc que tambem não dá,né?) Exemplo II – Quase o mesmo filme. Novo protagonista: um forno de microondas, pra variar, queimado. Ator coadjuvante, o mesmo Piolim, só que desta vez sem ter feito nenhuma cagada no enredo, e que continua acreditando que tem alguém com paciência pra continuar lendo estas bem mal traçadas linhas. Resumindo e poupando a paciência de todos, o bichinho tava lá, queimadão, sem função, olhando pra mim, eu olhando pra ele e.... de novo tchan tchan tcahn tchan.... Aí, acho que usei o tal de “raciocínio projetivo imediato, determinado pela circunstância momentânea; ou ainda, como uma forma alternativa de design.” (dá-lhe Wikipédia) Desmontei o tal de microondas, adaptei uma resistência , um ventilador e uma lâmpada, liguei tudo numa carcaça de um controle remoto( também queimado) e hoje tenho uma ESTUFA. Reconheço. Ela não me é muito útil. Afinal, poucas coisas, nós, simples mortais temos para “estufar”( é assim que fala?). Mas tem mais utilidade que um microondas queimado. Ou poluindo um lixão por aí. Assim como a nossa própria carcaça, nosso corpo. Entendo que nós somos um invólucro. Depois de consumido, como uma Coca Cola, um saquinho de pipoca ou uma lata de cerveja, só me resta esperar que alguém faça “uma intervenção alternativa, que também poderíamos definir como uma “técnica” de re-apropriação material:” e sinceramente, “ recicle” o que for reciclável em mim. Só espero que esse “alguém” seja mais inspirado do que eu. Não quero me transformar nem em um esmeril,nem numa estufa

terça-feira, 3 de março de 2009

IDOLOS

Os tive, no decorrer da vida, acho que aos milhões.

Ainda os tenho, mais modesta e sinceramente, aos milhares.

Talvez até, em algumas humildes centenas.

Pensando melhor, seriam na casa das dezenas?

O que teria acontecido? Mudei eu, ou mudaram os ídolos?

Certo, alguns, não poucos, realmente eram de barro. Por efêmeros, não resistiram ao tempo. Muitos, aos quais, preventiva e virtualmente peço desculpas, perdi-os, nos labirintos da minha reconhecidamente fraca memória.

Dizem que, com o passar dos anos ficamos mais intransigentes, exigentes e insurgentes. Eu não sou assim. Eu estou assim.

É, os anos passaram. Reconheço que também mudei.

Ontem, onde eu exigia ousadia, coragem e determinação,

Hoje, espero um pouco de bom senso.

Ontem, para ser meu ídolo, tinha que ser o mais rápido, o mais forte, ou o que pulasse mais longe.

Hoje, que seja sábio.

Ontem, que falasse mais alto, agitasse mais, sobressaindo-se dos demais.

Hoje, que quase não fale, quase não apareça, mas que, com seus atos, por pequenos que sejam, e com suas palavras, mesmo parcimoniosas, acrescente alguma coisa importante a todos que o cercam.

Humildade, carinho, amor.

Respeito, dignidade, caráter.

Conhecimento, sensibilidade, afeto.

Todos nós, sempre tentamos ser um ídolo para alguém. Principalmente para nossos filhos. Quase nunca conseguimos. Em algum momento, sempre falhamos.

Apesar disso, eu posso dizer que sou e estou feliz.

Meus filhos são os meus ídolos. O que mais posso querer?

São Roque, 03/03/09