GAMBIARRAS
Entre as manias que tenho, além de gostar de você, como sentenciou Flávio Cavalcanti, uma outra acaba me rendendo várias gozações. É minha compulsão por gambiarras. É, a velha e boa “gambi”. Não posso ver um carretel jogado fora, um copo de requeijão descartado, uma garrafa pet rolando pela rua, uma placa de componentes eletrônicos deixada de lado, que me dá uma coceirinha e a vontade imensa de recolher, guardar, armazenar, e principalmente, dar um destino mais nobre para aquele pobre objeto. Sim, mesmo admitindo que essa matéria já cumpriu a missão para a qual foi, supostamente designada, não consigo assimilar a idéia de que os dinossauros só existiram para que o petróleo nos fornecesse hoje o plástico, as árvores travassem 30 ou mais anos de batalha dentro da floresta para nos suprir de agendas, cadernos, papel higiênico! E pior ainda, propagandas políticas na forma de “santinhos”.
Como na maioria das vezes não consigo “idear” uma destinação do meu agrado, acabamos, eu e minha família, separando e destinando esses materiais para a coleta reciclável. Mesmo por que, se ousasse guardar todo esse material dentro de casa, com certeza Lena me colocaria rapidinho, junto com toda essa tralha, no lixo.
E não seria necessariamente no reciclável. Ela é “braba”. Mas, devagarzinho, vou fazendo minhas “artes”.
Fiquei mais animado depois que vi na Wikipédia que a gambiarra é uma prática que,
"envolve sempre uma intervenção alternativa, o que também poderíamos definir como uma “técnica” de re-apropriação material: uma maneira de usar ou constituir artefatos, através de uma atitude de diferenciação, improvisação, adaptação, ajuste, transformação ou adequação necessária sobre um recurso material disponível, muitas vezes com o objetivo de solucionar uma necessidade específica. Podemos compreender tal atitude como um raciocínio projetivo imediato, determinado pela circunstância momentânea; ou ainda, como uma forma alternativa de design.
Confesso que não entendi quase bosta nenhuma, mas que é bonito, é. Principalmente o trecho que fala no “
raciocício projetivo imediato”. Meu Deus. Que será isso? Será pecado?
Mas, mesmo assim, fui em frente. Para ilustrar minhas pequenas obras, darei dois exemplos recentes da utilização da
“técnica” de re-apropriação material” segundo a Wikipédia , seja lá o que quer dizer isso.
Um velho e prosaico chuveiro aqui de casa queimou.
Pois bem. O Piolim que aqui vos fala, garbosamente foi numa das melhores casa do ramo e adquiriu uma resistência compatível, instalou-a convenientemente e ...Pimba...Na hora de ligá-lo à famosa rede hidráulica, ou seja aquele
mardito caninho que fica na parede, a lei de Murphy, inexorável, implacável,
f.d.putamente resolveu dar o ar de sua graça e o singelo aparelho caiu e quebrou a carcaça.
O que fazer? Superbonder? Durepoxi? Fiz. Só Superbonder. Depois só Durepoxi. Depois Superbonder mais Durepoxi. Saia mais água pelo superbonder e durepoxi do que pelos crivos! ( sabia que aqueles furinhos do chuveiro por onde sai água chamam-se crivos? Toma cultura inútil!!!!)
Nessa hora, não tem mais remédio. Para não passar vergonha, o Piolim que, caso você não tenha desistido continua vos falando, vai para outra também melhor casa do ramo, e parcela em 10 vezes um novo chuveiro. Instala-o com todo o cuidado e ufa!!!! Habemos banhus.
Vá de retro fedô!!
Mas e a carcaça do artefato pivô de toda a confusão? Jogo-a fora? Ponho fogo? Ou, reconhecendo os anos de bons serviços prestados, proporciono-lhe uma justa e merecida aposentadoria, guardando-a numa caixa de supermercado?
Nenhuma das alternativas acima. Como não era tão prosaico assim, desmontei-o e aproveitei seu motor turbo, o pedaço de carcaça que sobrou, mais algumas peças e montei um: tchan tchan tchan tchan ..... ESMERIL . Que funciona!!!! Até hoje afio facas, chaves de fenda, etc.( não exagera muito no etc que tambem não dá,né?)
Exemplo II – Quase o mesmo filme. Novo protagonista: um forno de microondas, pra variar, queimado. Ator coadjuvante, o mesmo Piolim, só que desta vez sem ter feito nenhuma cagada no enredo, e que continua acreditando que tem alguém com paciência pra continuar lendo estas bem mal traçadas linhas.
Resumindo e poupando a paciência de todos, o bichinho tava lá, queimadão, sem função, olhando pra mim, eu olhando pra ele e.... de novo tchan tchan tcahn tchan....
Aí, acho que usei o tal de
“raciocínio projetivo imediato, determinado pela circunstância momentânea; ou ainda, como uma forma alternativa de design.”
(dá-lhe Wikipédia)
Desmontei o tal de microondas, adaptei uma resistência , um ventilador e uma lâmpada, liguei tudo numa carcaça de um controle remoto( também queimado) e hoje tenho uma ESTUFA.
Reconheço. Ela não me é muito útil. Afinal, poucas coisas, nós, simples mortais temos para “estufar”( é assim que fala?). Mas tem mais utilidade que um microondas queimado. Ou poluindo um lixão por aí.
Assim como a nossa própria carcaça, nosso corpo. Entendo que nós somos um invólucro. Depois de consumido, como uma Coca Cola, um saquinho de pipoca ou uma lata de cerveja, só me resta esperar que alguém faça
“uma intervenção alternativa, que também poderíamos definir como uma “técnica” de re-apropriação material:” e sinceramente, “ recicle” o que for reciclável em mim.
Só espero que esse “alguém” seja mais inspirado do que eu.
Não quero me transformar nem em um esmeril,nem numa estufa