quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Cine São José - Parte II - Assistindo às reportagens da TV Globo sobre a queda parcial do teto do Cine São José, duas coisas, além da juventude,da beleza e da alergia a pó da repórter( eu estava lá durante a gravação), me chamaram a atenção: Primeiro, o fato dela chamar o Cine Teatro de Cine Clube.Segundo, a insistência em dizer que o, vá lá, Cine "clube" era frequentado pela " elite" de São Roque. Vixe!! Vasquinho deve ter se remexido, lá onde ele está. Claro que a "elite", seja qual for o enfoque que se queira dar a essa classificação social, também freqüentava, mas poucos espaços culturais eram mais democráticos e abertos a todos do que o Cine São José. Quem não se lembra do "destaque" que saia nos anúncios do Democrata, quando da exibição dos filmes mais, digamos, novos, e que dizia mais o menos o seguinte: "Devido o filme ser lançado à percentagem, ficam suspensas as permanentes e entradas de favor". Juro que eu, do alto do meus parcos anos, nem sabia o que queria dizer isso, mas essa regra, Vasco nunca obedeceu. Uma grande parcela da platéia sempre era formada por " não pagantes" que pensávamos estar entrando "de favor".Na realidade,estávamos saciando o grande prazer de Vasco em ver o cinema lotado, com as pessoas se divertindo, nunca se importando muito com a renda da bilheteria, para desespero do "Seu" Celso e "Seu" Demerval. Para ele, uma poltrona vazia era um desperdício de cultura. Pensando bem, a citada repórter( eu já falei que ela era bonita?)não errou tanto assim no nome do cinema, não.Desde a pipoca da Dona Leocádia na porta, passando pela groselha e balas da Iris, não sem antes passar pelo crivo do Zé Coco na portaria, aquilo realmente era um clube. Um Clube Social, onde, sincreticamente, conviveram todas as elites possíveis e imagináveis de São Roque.Talvez a repórter não tenha captado essa magia.Não é culkpa dela. Essa compreensão,provavelmente está reservada a nós,sanroquenses natos ou por adoção, que tivemos o grande privilégio de vivenciar essa época. Mas que a repórter é bonita, é.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

PARA IRIS BARIONI (20)

Cada raio de sol,

Uma esperança,

Cada partícula solta no ar

Multiplicada em amor,

Cada célula viva

Magnetizando a paixão

Que devemos ter

Que devemos ser.

Cada obra de Deus

Refletida no espelho eterno da sabedoria

Tudo o que nossa infinita capacidade

Nos proporciona fazer e não sabemos como.

Só você sabe fazer de cada um de nós, um todo,

Para que exista um todo, em cada um de nós.

( Roberto Ribeiro Lopes)

 
 
14 de setembro de 2009 – Hoje fazem cinco meses
que Vasquinho, que foi, é e sempre será uma das
figuras mais importantes da vida cultural desta
cidade,nos deixou. Hoje ,exatamente hoje, o Cine
Teatro São José,ícone maior de suas realizações,
nos mostrou o quanto está ferido, o quanto precisa
de ajuda. Andando sobre os escombros da parte do
telhado que caiu, fiquei imaginando o que Vasco
faria nessa hora, quais as providências que
tomaria, e principalmente, como seu espírito,
sempre otimista, confiante e empreendedor,
reagiria ao sentir que os sonhos, por mais
sólidos e realizados que possam parecer,se
não cuidados, também podem ter um fim.
Realmente, não encontrei nenhuma resposta.
Dizem que, quando estamos em situações extremas,
um filme passa-se em nossas cabeças.
E justo ali, onde assisti a centenas deles,
as imagens começaram a rolar. Mas não na tela,
gigantesca na minha infância, hoje nem tão
grande assim, mas nas poltronas,
nas paredes, no teto, hoje tristemente mutilado,
imaginando, inicialmente em branco e preto,
depois em “fulgurante Technicolor”, cada tijolo,
telha, sendo colocado com suor, sangue até
e principalmente com muito carinho. Nessas
imagens não havia nenhum ator famoso,
nenhum ganhou o Oscar, nem menções em
revistas glamorosas. Dirigida por Vasco,
foi a comunidade sanroquense que ergueu o
cinema, como ele sempre fez questão de
enfatizar e agradecer. E assim,
nas filas, salas de espera, poltronas,
nos bares internos( sim, eram dois, lembram-se?),
assimilando costumes, crescendo culturalmente,
conhecendo-se, interagindo, a vida desta
comunidade, imitando a arte, com suas paixões,
romances, aventuras, tristezas e
alegrias foi moldada.
 
Acho que não preciso explicar porque comecei
este “post” com um poema que “emprestei” do meu
irmão Roberto, dedicado a Tia Iris, uma das
pessoas fundamentais para a história do
Cine S.José. Acho que só ela pode explicar
onde encontrou forças para acompanhar e apoiar,
desde o inicio,desde o planejamento, as
idéias malucas de seu irmão Vasco.
Só ela para lembrar, não se descuidando
mesmo hoje, de fazer o café, o almoço, de por
a mesa para as visitas.      
Repetindo Roberto : 
 

Só você sabe fazer de cada um de nós, um todo,

Para que exista um todo, em cada um de nós.”

 
 
                                                                                                         

Niney